Inspiração



Um bocadinho de mim em palavras soltas, libertas pela digitalização da mente.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Aromas Irrepetiveis




Em breves segundos, tingidos pela cor da tua pele, em que me pergunto:
- Quem és tu, estranho desconhecido?
És a sombra recortada daquilo que quero em mim. Tu não és como eu desenhei. O teu olhar penetrava-me na alma enquanto partias para longe, para bem longe de mim. E enquanto isso era nos teus passos que me perdia, na musicalidade inerente ao teu andar desengonçado. Compasso marcado pelas rugas de expressão que fazes quando a tua alma sorri.
Voltei a ter aqueles pequenos e fugazes arrepios em que o meu corpo se perdia quando me tocavas. Via-me preso em memórias que ressuscitas-te quando me voltaste costas. Memórias que até então estavam enterradas na mais longínqua encruzilhada para lá da ponte, para cá da biblioteca, no meio da minha mente. A minha alma tornara-se vazia sem aquela nossa simbiose constante de pensamentos. Partiste e deixaste-me só, sem um pedaço do que era, um pedaço que, sem ti, jamais poderá ser preenchido.
Eu existia em ti. No doce paladar das tuas palavras encontrava as razões para toda aquela insanidade. Querer-te sem te poder ter por completo. No suave rogaçar dos lençóis, encontrávamos o som da pertença, da exclusividade de sermos um só. E agora nada disso é real. Esta noite estou só e o mundo em que me perco não é mais o teu.
Os aromas que eu um dia fixei graças a ti fugiram. Não são mais meus. Não são mais nossos. Pergunto-me, depois daquela noite lúgubre, será que ainda temos algo nosso? As palavras sonantes em sinfonia que antes éramos capazes de saborear agora são como o limão, ácidas, e vão-me queimando os dedos à medida que vou tocando nos lençóis, tentando, uma última vez, absorver o teu perfume. Aquele que, no outro dia, o meu corpo emanava e que com ele, com o aroma do teu perfume, eu adormeci na última noite.
Agora sou apenas um vulto de nós dois, perdido numa nuvem de cetim branca. Só o contorno do meu corpo preenche este espaço e só eu olho a noite através daquela janela. Lembraste quando nos amámos tendo as estrelas como espectadoras? Lembraste da sensação de continuidade dos nossos corpos? Hoje, vagueias na minha memória, junto com suspiros e arquejos.
Memórias amargas de beijos irrepetíveis que me rompem e rasgam a alma.

Miri* e Ricardo Cunha
(Texto resultado de uma colaboração com o ricardo - to one in paradise partindo das últimas frases do meu último texto. )

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Estranho Desconhecido...


Momentos furtivos serpenteando por um tempo que não é nosso. Um querer traduzido em pequenos silêncios cúmplices, que nos unem com invisíveis cordéis de vida.
Olhares sussurrados num dialecto cerrado, de sons contrastantes e que nenhum dos dois domina.
A tua mão perdida na minha cintura, enquanto a minha respiração espera pacientemente a tua. Um recuo leve na realidade e um arrepio na pele, quente de antecipação.
No toque subentendido de pensamento, a inexperiência do desejo de entender aquilo que podemos ser juntos. Segredo guardado entre as paredes da nossa loucura.
É a tua voz profunda junto ao meu ouvido , suave caricia no coração, que me avisa da escassez dos minutos que nos restam. É o cheiro do teu perfume que me inebria e me tira a razão. Simbiose de ti no vulto esquecido de quem já fui.
No intervalo das sentenças ensaiadas que proferes é no desenho dos teus lábios que me fixo. Breves segundos, tingidos pela cor da tua pele, em que me pergunto - Quem és tu, estranho desconhecido? 
És a sombra recortada daquilo que quero em mim.