Inspiração



Um bocadinho de mim em palavras soltas, libertas pela digitalização da mente.

sábado, 12 de março de 2011

Encontrei-te no sol...



Hoje é no sol que te encontro. No meio de uma esplanada repleta de outras histórias e de vozes que me chegam desconexas e desfasadas é em ti que me concentro. Vieste sem avisar. Espontâneo, como só tu sabes ser, saíste da redoma em que te tentei aprisionar. Aquela que escondi no fundo da alma para não magoar.  Apareceste quando o primeiro raio bateu na minha pele. O contorno do teu corpo tornou-se quase palpável e esperei ouvir a tua voz.
 Enquanto o quente do sol me abraçava o corpo, calei um suspiro. Um arquejo. Um arrepio suave que até a tua presença imaginária percorreu. Fechei os olhos perdida em memórias demasiado vivas; impressões nossas que marcam a cadência do bater, agora descompassado, do meu coração.
Tentei concentrar-me. Ajeitei-me na cadeira e foquei a pessoa que falava comigo. Esforcei-me para encontrar uma frase espirituosa, inteligente, desafiadora, que me fizesse sair do entorpecimento que ter-te tão presente em mim me fez cair. Mas tudo o que me ocorreu foram frases tuas. Ideias que partilhámos um dia. Numa comunhão de pensamento que nos surpreendia. Sorri sem perceber. Um sorriso lento, aberto, apaixonado e totalmente teu. Aquele que só tu conheces, pois és tu que o desenhas. Mesmo estando longe.
Quando o sol me tocou o pescoço, deixei de lutar. Parti numa viagem e sem me importar com quem me rodeava, recostei-me e deixei-me ir, guiada pelas faixas brilhantes que me envolviam agora. Voltei a ti. A nós. A um sítio perdido num mundo que construímos juntos. Num lugar em que não há nada que nos separe; que nos empurre para longe daquilo que sentimos. E deixei-me estar aí. Onde ouvia os teus passos ressoarem na madeira fria do chão. Onde o teu olhar me percorria sem interrupções, sem restrições. Onde o despertar era mais doce por estares presente. Onde tudo era mais perfeito só pelo facto de estarmos juntos.
O sol começou a esconder-se. Tímido e sem vontade vai escapando e afastando-se de mim. Promete voltar. Promete trazer-te de volta. E eu agradeço em silêncio a pausa no turbilhão de sentimentos que a tua imagem provoca em mim. Num último adeus, sinto o teu abraço quente. Inclino a cabeça e inspiro o cheiro que tão bem conheço, que se misturou com o meu e que se tornou agora parte dos dois.
O sol já desapareceu por completo e eu voltei a guardar-te na alma. Num sítio especial. O sítio onde guardo aquilo que me faz mais feliz.
Sei que sorris. Aquele sorriso travesso, que domina o teu rosto e que me diz tanto.
Sei que vais voltar. Que vais dominar-me novamente o pensamento, os movimentos, o coração. E sabê-lo conforta-me. É a minha maneira secreta de te manter comigo.

E talvez nem tenha que esperar pelo sol.