Inspiração



Um bocadinho de mim em palavras soltas, libertas pela digitalização da mente.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A ti... Pai...




Hoje partiste.
Sem me avisares ou sequer pensares em despedir-te.
Tudo aconteceu demasiado depressa e quando dei por mim percebi que nunca mais voltaria a ver esses teus olhos escuros que me abraçavam sem tocar. A irrealidade de tudo isto envolveu-me formando uma concha à minha volta. Os rostos familiares que me rodeiam nada me dizem e a sensação de que bastaria um carinho teu para acordar deste pesadelo mantêm-se durante dias. Espero-te pacientemente.

Mas tu não vens… nem nunca mais virás.

Olho para o objecto à minha frente e não o reconheço. A fotografia pousada na entrada é a tua mas a minha mente recusa a assimilar a situação. Tu não estás ali e eu não estou aqui. Tudo isto não passa de uma ilusão macabra da minha mente, não é?

60 segundos.

Foi este o tempo que tive para voltar a sentir a realidade entranhar-se no meu corpo. Agora que já não te posso tocar e que nunca mais verás o sol é que entendo que tudo é verdade.
Aquele eras tu e aquela era eu. As palavras vãs de condolências são dirigidas a mim e o meu olhar é o que compadece estas pessoas. Foste mesmo embora não foste?
Preciso de chorar eu sei… Mas o vazio cheio de solidão e saudade eterna são muito mais profundos do que meras lágrimas perdidas num rosto marcado pela tua ausência.

Fujo das vozes que me rodeiam e albergo-me num espaço em que o silêncio exalado pelas paredes brancas me protege do terror de estar acompanhada por outros sem seres tu. Inspiro lentamente e vem até mim o teu cheiro característico, a tabaco e a vida, provenientes de recordações infantis. Enquanto caminho., descalça e apreensiva, por este chão de mármore gelado, as recriminações enchem a minha mente. Devia ter-te dito mais vezes que te amava? Devia ter-te abraçado com mais força? Agarrado mais vezes a tua mão? Guardar-te com mais cuidado para que nunca me deixasses?

O meu coração torna-se pesado de culpa e finalmente as lágrimas teimam em sair. Não de dor ou saudade, mas de raiva contra mim própria por não te ter protegido como fizeste comigo a vida inteira. Merecias mais! Choro compulsivamente e deito-me no chão, enrolada sobre mim própria enquanto canto baixinho a tua música preferida. Exausta de emoções deixo-me cair num sono profundo onde tu passeias entre sonhos.

-Sai daí! Ainda te vais aleijar! - Disseste com ar zangado.
-Não vou, não vou! Eu quero subir lá acima! - Respondi-te eu com a voz mais meiga que conseguia. Não queria que me viesses buscar e aquele ovo de pássaro lá em cima estava mesmo à espera que a minha mão rechonchuda o apanhasse.
- Mas tu não percebeste que está demasiado longe? Vais escorregar e cair! - Ignorei a tua frase desconhecendo ainda que conseguias ver mais que eu. Devia ser por seres mais alto.
-Estou quase l… - A minha última palavra perdeu-se no ar. O meu pé escorregou na resina da árvore e eu caí desamparada na relva fofa do quintal. Olhei primeiro para ti antes de chorar, com medo que dissesses “Eu bem te avisei”, mas a tua cara de preocupação era tanta que eu percebi que estavas tanto ou mais aflito do que eu e por isso dei azo à choradeira.
-Pronto, Pronto já passou – A tua voz soava aliviada e paciente por veres que eu estava bem. Passavas-me a mão pelo cabelo e beijavas-me a testa de maneira suave. Senti o calor do teu corpo e senti-me feliz por estares ali comigo. Abracei-te com força e sequei as minhas lágrimas no tecido áspero do teu casaco, enquanto me levavas ao colo para casa.

Verão. Um calor abrasador e eu com os calções e a t-shirt que mais gostava. Sai de casa a correr e aspirei o ar puro que uma terrinha tão esquecida me oferecia. Sabia que era dia de diversão, porque já te tinha visto encher as braçadeiras para irmos para a barragem.
- Despacha-te, querida! Se não quando lá chegarmos já é de noite!
-Vamos de mota? Sim, sim, sim? Por favoor! - Sorriste perante a minha insistência e explicaste-me devagar que éramos três e que não cabíamos.
-Podia ir ao colo do Flávio…
A tua gargalhada soou pela rua toda e até a vizinha da frente interrompeu a sua jardinagem para olhar na nossa direcção. Só eu mesmo é que ainda acreditava que três pessoas cabiam numa mota. Como era tudo tão simples.
O Flávio veio em meu auxílio e prontificou-se a ir de bicicleta até à barragem. Assim fazia exercício, dizia ele. Eu sabia que ele só dizia aquilo para me agradar. mas não disse que não, apesar de saber que ainda tinha que pedalar muito. Ou isso, ou queria ganhar músculo para mostrar aquela rapariga que olhava muito para ele lá na escola.
- Está bem… então assim podemos ir!
-Ena, ena !- gritei com um sorriso de orelha a orelha, correndo para ti e depositando-te um beijo na bochecha, rugosa da barba.
Puxaste-me para cima da mota e com um barulho surdo ligaste-a, começando a marcha. Como o Flávio ia à frente de bicicleta todo o passeio foi feito lentamente e eu apreciei cada minuto. Enquanto sentia o teu corpo junto ao meu e abraçava com força a tua barriga, com medo de cair, deliciei-me com os pontos na paisagem que tu me mostraste. Pensei que estarias para sempre comigo. Até hoje estão gravados na minha mente e aquele momento, em que partilhaste comigo mais do que apenas palavras vãs, gravado na minha pele.

As pessoas olhavam-nos e eu sabia porquê. Tu estavas mais bonito do que nunca, sofisticado e com um ar feliz e orgulhoso e eu vestia o vestido branco mais bonito do mundo. O meu vestido de noiva. Levaste-me pelo braço, percorrendo comigo a passadeira vermelha que me levava até aquele que cuidaria de mim agora. O teu braço foi-se tornando cada vez mais apertado e eu soube que me dizias sem falar que me amavas.
-Está entregue… Disseste enquanto apertavas a mão do meu futuro marido e as lágrimas assomaram aos meus olhos.
Beijaste-me com ternura e afastas-te dando-me o meu momento.

Acordei embalada pelas tuas memórias e estranhamente sorria. Como poderia sorrir quando tu havias acabado de partir para sempre?

Senti paz e a certeza de que agora descansavas. Que os sofrimentos passados em vida finalmente tinham sido apagados e que nunca mais voltarias a sentir dor. As recordações vivas que tenho tuas, do som do teu riso, do toque da tua mão, da tonalidade da tua pele, são pedras preciosas que vou guardar sempre e que te manterão vivo junto a mim por mais anos que passem. Tu garantiste isso ao ensinar-me a viver, a amar, a querer e a escolher. Foste o meu guardião e mentor e viverás por mim, quando em cada frase, em cada respiração a tua influência se reflectir em mim.

Sei que não estás em nenhum domínio espiritual e sei também que não me consegues ouvir mas isso acalma-me. Estás simplesmente a dormir.
Por isso penso baixinho quando te agradeço mentalmente tudo o que me deste e aquilo que foste e ainda és para mim. A saudade será eterna e a dor reaparecerá novamente mas eu espero apaziguá-la garantindo que serei a mulher que tu gostarias que eu fosse.
Por tudo, Obrigado.

Até um dia, Pai!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Para o Nuno e a Sara :)




Obrigado pelo óptimo dia que nos proporcionaram :)

Que sejam muito felizes queridos amigos :D

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A tua ausência...



A TUA AUSÊNCIA

O sol já se pôs… A tua altura do dia preferida. Adoravas sentar-te nesta mesma poltrona onde estou, comigo aninhada no teu colo, e presenciar um dos grandes fenómenos da natureza, como tão sabiamente dizias. Gostava de o fazer também agora, procurando assim algo que me ligasse a ti, porém desde que partiste, tornou-se um fardo demasiado pesado, acordar as memórias. Agora quando olho pela mesma janela, concentro-me antes na azáfama da multidão que corre lá em baixo na rua, rua que tantas vezes percorremos abraçados. Ao olhar para eles, tento afastar-me de mim. Do meu interior escuro e sombrio, forrado com o mais triste sentimento. Consigo focar-me em algumas pessoas e esquecer-me de mim, de nós. Mas hoje não funcionou. Apesar de me tentar focar nas cores, nos movimentos, nos cheiros que vem da rua, tudo o que me invade a mente é a tua imagem. E de repente a minha imaginação prega-me novamente uma partida e eu vejo um vulto que se parece exactamente contigo. Eras tu? Aquele vulto que surgiu de repente eras tu? Poderia jurar que sim mas sei que não juraria em verdade. Desde a tua partida que a minha mente me ilude e eu julgo vislumbrar-te no meio da cidade, desta multidão agitada que polvilha Lisboa. Sinto o teu perfume, ouço o teu riso, avisto o teu passo ligeiro e desengonçado. O meu coração pára mas só até perceber que não és tu.

Olho pela janela e vejo que começou a chover tal como no dia em que partiste. Primeiro, apenas algumas gotas que vieram brincar no vidro, depois uma torrente de água que desce pela avenida.
Sabes o que isto me lembra?
Será que ainda te consegues lembrar dos nossos momentos mesmo apesar da distância?
Espero que sim mas temo que não.
Lembra-me aquela vez quando ficamos horas debaixo da chuva, a sentir cada gota a entranhar-se na nossa pele, mas com a plena convicção de que não sairíamos dali porque isso significaria separação.
Mas afinal foi o que aconteceu, não foi?
Ainda hoje me pergunto o porquê, mas aos poucos fui desistindo de tentar encontrar respostas que estão fora do meu alcance. Respostas, que se encontram no mais intimo de ti, no meio dos teus labirintos, cuja porta são os teus olhos meu enigma.

Olho pela janela e aprecio as novas cores que pintam o céu agora. O sol já se pôs e o céu cobriu-se de cinzentos e negros que fazem adivinhar uma noite repleta de estrelas. Vês as mesmas estrelas do sítio onde estás? Pensas em mim tal como penso em ti, meu amor?
Sabes, apesar de lindas, são estas as cores que associo à tua ausência, ao vazio que ficou no teu lugar. Foram estas as cores que tu usaste para tingires a tela dos meus dias desde que partiste.
Pergunto-me se já não me amarás ou se a nossa história é agora apenas uma lembrança rasurada na tua mente.
Apesar de tudo, continuo a procurar-te entre os estranhos que encontro no caminho para casa, continuo a procurar pela tua presença, por algo que me ligue a ti de uma maneira indelével.

Esqueci-me de te pedir uma coisa na primeira e última carta que te escrevi. Logo depois de partires, naquele enorme avião que te levou para milhares de quilómetros de distância, percebi que tinha deixado, uma coisa que me é imprescindível, contigo. Podes, por favor, procurar? Talvez nos bolsos das calças, na mala ou.. não, não! Esquece tudo e procura no bolso interior do casaco, naquele perto do coração. Encontraste? O meu bocadinho de coração foi à procura do teu e acabou por ficar contigo. Importas-te de me devolver? Farias isso? Ou irias ser teimoso e guardá-lo só para ti?

Olho pela janela e surpresa! Tal como chegou a chuva foi embora e deixou-me sozinha. Era o seu som que me embalava ternamente nos meus doces pensamentos sobre ti.
Não quero ficar sozinha, por isso começo a pensar em que livro irei pegar para me tentar transportar para outro mundo, Um mundo em que nós não existimos e em que o único silêncio vazio é aquele entre parágrafos.

Estão a tocar à porta e sobressalto-me com o som da campainha. O “Trimmm Trimmm” insistente já é desconhecido para mim. Desde que saíste que não recebo os amigos em casa e muitas vezes quando a campainha toca estou tão absorta em recordações que nem noto. Porquê, perguntas tu? Porque todos os amigos me fazem lembrar de ti, da tua voz, da tua presença junto a mim quando nos reuníamos à sexta-feira à noite para relaxar. Tornei-me uma má companhia, pois a única presença que realmente anseio é a tua. Antes de abrir a porta, volto-me de novo para a janela e reparo num olhar demasiado familiar. Mas quando olho novamente já não está. Hoje as memórias afloraram mais do que o costume.
Sinto a tua falta…

Abro a porta ainda melancólica e vejo uma senhora, vizinha parece, um rosto que não reconheço, com uma carta na mão. Entrega-me e diz-me que o correio se enganou e pôs na caixa de correio dela. Será que foi isto que aconteceu com as tuas cartas? Extraviaram-se antes de chegar até mim, por isso é que nunca as recebi? Ou simplesmente não as escreveste?
Volto-me decidida a mergulhar em literatura e esquecer a saudade por umas horas, quando novamente a campainha dá sinal. Suspiro, contrariada porque não me apetece manter conversa com pessoas estranhas, nem magicar palavras simpáticas quando tudo o que quero é gritar de desespero. Engulo as lágrimas que vieram sem serem chamadas e abro a porta … o mundo pára, o coração bate descompassadamente e os joelhos cedem.
Deixo-me cair no chão, incrédula da veracidade deste momento. Não posso acreditar… és tu.. .tu… o vulto da minha imaginação! Como podes ser tu?
Os teus braços envolvem-me, a tua respiração aquece-me e eu tenho finalmente a certeza - és meu novamente!

Olho pela janela, uma última vez antes de me perder em ti e observo a chuva. Ela voltou, desta vez não com som de despedida e solidão. As gotas da chuva desenham na janela pontos indecifráveis enquanto a tua voz me sussurra ao ouvido, a única coisa que esperei ouvir depois de tanto tempo - “Amo-te”

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mariza - Barco Negro

Finalmente algo que me inspire :)

Vi o clip e não resisti a escrever alguma coisinha rápida...







A areia toca-me o corpo coberto de negro. Sou um ponto escuro no meio de um sedoso chão dourado, que me envolve enquanto choro. O som das ondas embala-me o pranto e a tremura vaga de um corpo fraco. Vejo-te ao longe, perdido no mar agitado que, eu sei, não te trará de volta. O cheiro desta praia vazia enche-me os sentidos e ecoa na maresia o som agudo da tua saudade.

Levanto-me a custo, obrigando o meu corpo a obedecer, e arrasto os meus pés até à água. Já não te vejo e, por isso, sei que a despedida foi para sempre. Ao chegar-me mais perto da linha de água, a bainha do meu vestido, preto como a profundidade do meu ser, molha-se com as lágrimas salgadas que derramaste ao partir. Minto a mim mesma e ganho a certeza de que voltarás. Quero acreditar, porém o vazio que me preenche as entranhas não desaparece.

Ouço o silêncio da tua ausência ao mesmo tempo que estendo a mão para tocar a tua, lá ao fundo, imaginariamente acenando. Um leve sorriso toca-me os lábios e sonho que são carícias tuas, espalhadas em memórias já esquecidas. Uma sensação de paz ameaça entrar, mas o vento volta e traz na bagagem as palavras maldosas das velhas mulheres da praia: “ Ele não voltará… não voltará”. O burburinho alcança-me o coração e, com as suas mãos tristes, aperta-me o coração até eu sentir sangrar .. . A dor sufoca-me.

Rasgo as roupas enquanto canto aos mares e às areias que me rodeiam a loucura dessas mulheres: “Loucas…são loucas”. O mundo parece ouvir-me e tudo se queda novamente em silêncio. Tudo menos os incessantes queixumes que teimo em deixar sair.

Vejo-te do outro lado da praia… Afinal nunca partiste. A minha voz eleva-se e enche o céu, ao mesmo tempo que tento chegar a ti: “ Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir, pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo.”

A tua imagem esfuma-se e tudo o que resta é uma mulher vestida de negro, deitada numa tela dourada e áspera, agarrando os resquícios da presença de quem já lá não está.

A Walk trought the park... (excerto)





Sento-me no banco frio e impessoal que tantas vezes me albergou quando precisei descansar o corpo das feridas amargas da mente. O tempo passou mais depressa do que eu esperava, mas as marcas deixadas na pele nunca desapareceram. É delas que fujo quando passeio pelo parque que se tornou o meu refúgio, desde que a solidão de estar rodeada de pessoas indiferentes se tornou pesada demais para ser suportada dentro de quatro sufocantes paredes brancas.

Ouço o leve restolhar das folhas no chão, o riso traquina e inocente das crianças que brincam ao fundo do caminho ladrilhado de pedras regulares e de vivências mortas pelo tempo. Sinto a leve brisa outonal no rosto e aspiro aquele aroma vermelho e laranja que polvilha as manhãs de Paris. É nestes raros momentos que me sinto mais perto de ti, daquilo que me ensinaste e que prontamente esqueci numa singela noite de Verão em que os sonhos ilusórios venceram a razão térrea que me ajudaste a criar.

Durante seis décadas de dias passados, pensava eu a conta-gotas, nunca te escrevi. Nunca manchei um único pedaço de papel com a minha caligrafia irregular para te contar o porquê de tudo se ter apressado daquela forma. Foi hoje a primeira vez que trouxe comigo um caderno antigo, onde ainda residem vestígios do teu aroma e resquícios das flores secas, resultado dos nossos encontros furtivos. Não sei bem porque o faço, mas escrevo tendo a certeza que nunca irás ler estas palavras. Tudo isto será apenas um vislumbre de lágrimas desenhadas cuidadosamente em papel mudo. Testemunhas silenciosas da dor e da saudade que me corre nas veias desde que te virei as costas.

Fecho os olhos enquanto me recosto mais, sentido o sol. O calor gélido das recordações que traz no seu regaço reconforta os meus ossos cansados e reluz nos cabelos brancos que já desisti de esconder. Sem compreender, ouço o rumorejar lento das palavras que brotam do âmago do meu ser. Serão saudade ou solidão? Ou apenas cicatrizes daquilo que poderia ter sido? Pela primeira vez em muitos anos sinto as palavras mais perto da superfície, prontas para emergirem do lago escuro que se tornou o meu interior.
Tentei fechá-las em mim e apagar o amargo sabor do seu travo doce. A pressão que exerciam deixava-me muitas vezes à beira das lágrimas, que escondia numa tela de força arrebatadora, tão frágil e vã como o desprezo que te mostrei. Tudo meras encenações que compunha enquanto me ia esquecendo de mim e daquilo que verdadeiramente era. Mascarar a loucura, a ânsia de liberdade e a saudade de outro corpo era apenas mais um acto na peça de teatro, do êxito de bilheteira em que a minha existência se tornou.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Excerto Foostprints in the sand



(...)Haviam sido semanas consecutivas de ensaios exaustivos que testavam os limites da nossa persistência. Miguel mostrara-se sempre disponível e paciente para enfrentar as minhas manhãs de mau-humor, as tardes de insegurança e até mesmo as noites de absoluta e completa distracção. As infinitas horas pintalgadas pela música que passámos juntos criaram entre nós uma ligação profunda, ténue e quase invisível aos olhos de estranhos mas absolutamente delineada para nós. Ao contrário do que era normal em mim deixei-me ir devagar na sua simpatia, no seu talento e na sensibilidade gritante que emanava dele. Um a um, Miguel lançou para longe, os blocos de silêncio, que compunham as muralhas que tinha construído à minha volta. O seu sorriso fácil e sincero juntamente com a harmonia delicada da sua voz faziam-me sentir segura e sem ter medo de mais nada entreguei-me àquela amizade embalada pelas notas do piano de cauda que nos acompanhava.(...)

(...)Senti o nervosismo voltar quando o vi fechar os olhos e aproximar o seu rosto do meu e as borboletas que sentia esvoaçar na minha barriga agitaram-se ainda mais quando percebi que desejava aquele beijo tanto quanto ele.
Não sei quando comecei a confiar em Miguel, o processo foi gradual e nem me apercebi do dia em que o comecei a considerar meu amigo e agora aqui estava eu, o meu corpo a admitir aquilo que a minha cabeça, sempre demasiado ocupada, se recusara a entender.
Lentamente senti as minhas pálpebras fecharem e o meu corpo encostar-se suavemente ao seu, instintivamente. Quando os nossos lábios se tocaram senti um formigueiro de prazer percorrer todo o meu corpo como se uma onda me tivesse inundado. As minhas mãos deslizaram para o seu cabelo e aí senti-o sedoso e macio por entre os dedos. Por outro lado as suas mãos escorregaram para a minha cintura apertando-me num forte abraço enquanto o seu beijo se tornava mais carinhoso.(...)

Frase de um capitulo ainda não escrito...



" O brilho dos seus olhos respondeu-me muito antes da sonoridade das suas palavras aflorarem a superfície"

Será que a inspiração vai voltar para eu poder escrever a Footprints? Acho que só o tempo o dirá...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Fragmento da Footprints in the sand (my book)





"Desci a Rua do Alecrim dentro do pequeno eléctrico que todos os dias percorria as ruas de Lisboa. Sentada no meu lugar junto à janela via o frenesim que se vivia lá fora.
Era segunda-feira e as pessoas agitavam-se saindo do trabalho, prontas para rumarem a casa e encontrar o conforto do lar. O eléctrico ia cheio e a multidão à minha volta acotovelava-se para conseguir uma melhor posição. Normalmente toda esta agitação me fascinava e eu apanhava-me a analisar as reacções que me chegavam. Mas hoje não… hoje a minha mente estava perdida nas ondas mais revoltas do oceano de pensamentos que assolava a minha mente. Vagueava entre os prós e contras, entre a consciência e a emoção.
Apeei-me junto ao Largo de Camões satisfeita por abandonar aquele aglomerado de gente que me comprimia. Respirei o ar fresco da noite e olhei em volta. O largo estava polvilhado por grupos de jovens que descontraiam depois de um dia de faculdade. Ainda traziam consigo os dossiers e os livros que os acompanhavam durante todo o dia, mas rapidamente os abandonavam em qualquer vão de escada que ficasse perto de onde se encontravam. O seu riso voava até ao sítio onde eu estava e a descontracção era palpável no ar. Eu reconhecia-lhes os gestos, porque sabia que eu faria exactamente a mesma coisa em outro dia. Ali seria o meu lugar, junto com o meu grupo de amigos, tentando esquecer a pressão dos exames, os trabalhos pendentes ou as horas intermináveis de ensaios que nos esperavam no dia seguinte. Porém, naquela noite não seria assim, porque eu precisava de estar sozinha e pensar. Tinha até arranjado uma desculpa para a Matilde não me acompanhar. Depois da conversa dessa tarde, tinha dito à minha amiga que ia ensaiar (Matilde não me acompanhava aos ensaios desde que ficara doente). Não era mentira, pois de facto iria ensaiar mas não agora. Primeiro precisava de espairecer e relaxar…sozinha.
Senti a brisa fria do vento, apertei mais o casaco contra o corpo e comecei a descer rumo à Brasileira. Sentar-me naquela esplanada e observar os transeuntes que passavam, muitos deles turistas, que se misturavam com a gente desta cidade que os recebera de braços abertos, era das coisas que mais me relaxava. Será que concentrarmo-nos na vida das outras pessoas faz com que a nossa se torne mais suportável?
Sentei-me na única mesa vazia e olhei para o meu colega de esplanada, a estátua de Fernando Pessoa ali estava pronta a fazer-me companhia durante o meu serão. A sua expressão era a de quem esperava pacientemente a passagem do tempo, sem preocupações nem ansiedades. Será que seria assim mesmo a sua expressão quando ainda vivia? Perdida nestes pensamentos que nada tinham a ver com a decisão que tinha que tomar, consegui pedir um café com natas.
Imitei os gestos de Pessoa e abri o livro que trazia comigo. Mas por mais que tentasse ler e conjugar ideias o meu pensamento fugia sempre para a imagem de Miguel.
Recordei-me da primeira vez que o tinha visto, no refeitório do Conservatório, com um círculo de miúdas totalmente derretidas por ele a pedirem-lhe para cantar. Ele, com um sorriso que conquistaria multidões ao longo dos anos, aceitou e em segundos a sua voz enchia toda a sala fazendo com que até os mais distraídos voltassem a sua atenção para ele. Apesar da sua voz quente me fazer arrepiar o único pensamento que me cruzou a mente foi o quão exibicionista ele era. Essa opinião persistia até hoje e sabia que era muito difícil mudá-la.
Como é que poderia trabalhar com uma pessoa assim? Com alguém que me provocava tanta aversão? Mas também não me conseguia deixar de perguntar porque é que ele me afectava tanto. Simplesmente não o conseguia ignorar.
Paguei o café que nem sequer bebi e desci a rua em direcção aos Armazéns do Chiado. O ar estava impregnado do cheiro de castanhas assadas e o fumo característico das panelas dos vendedores povoava aquelas ruas. Como era bom sentir o pulsar de vida em Lisboa! Sentir estes cheiros que se misturavam com a voz desconhecida de tantas pessoas.
Andei durante uns vinte minutos, vendo montras e visitando alfarrabistas tentando que algo me cativasse. Tentando fugir da decisão iminente que tinha que tomar.
E se ele não aceitasse? De certeza que todas as raparigas do Conservatório já haviam tentado que Miguel se tornasse seu parceiro. Porque é que havia ele de me dizer que sim a mim?
Pensei em voltar para trás e apanhar o eléctrico para casa, confiando que a minha almofada seria a minha melhor confidente, mas de repente chegou até mim uma voz inconfundível que estava entrelaçada à história de Lisboa para sempre. Segui o som dos acordes da guitarra portuguesa e o tom daquela voz que arrastava multidões. No meio da baixa lisboeta uma carrinha de fados parava e deixava os turistas apreciarem a voz de Amália. O choro da guitarra fascinava a todos e a saudade que estava patente naquela voz deixava uma lágrima no canto do olho. Os meus olhos fecharam-se e senti cada toque daquele fado. Percebi o quanto a música de Amália e o seu talento tocavam cada um do presentes e percebi que o que eu mais queria era que a minha música influenciasse assim os sentimentos dos outro, que os tocasse de forma tão profunda…Valeria isso todos os sacrifícios?"

terça-feira, 1 de junho de 2010

When i look at you.....

A música não me sai da cabeça e já me inspirou em diversas situações (apesar da miley cyrus ser fraquita :p) mas o David Bisbal dá um toque latino que torna tudo muito melhor ;)




Feiras do Livro = Perdição

Mas porque é que há feiras do livro que nos fazem perder a cabeça???

Mesmo depois de muitas despesas e de ter imensos livros em fila de espera dou por mim a não resistir ao impulso e a comprar dois livros na feira da Bertrand que está no Chiado *.*

E eles são...............................................................

Como a água que corre de Marguerite Yourcenar :)

Sinopse:
Como a Água Que Corre, chamou Marguerite Yourcenar ao conjunto de três novelas, que compõem este livro.
Como “a água do rio”, explicou, “ou por vezes da torrente, ora lamacenta, ora límpida, que a vida é”.
São três as novelas que o compõem.
Anna Soror, escrita em 1925 (tinha a autora 22 anos), publicada com pequenas alterações de estilo em 1935 e hoje retomada, apenas com os acrescentos a que a sua própria maturidade obrigou.
É a história do breve e eterno amor de dois irmãos, vivido numa Nápoles renascentista, entre paredes austeras e campos escaldantes.
Um Homem Obscuro centra-se no personagem de Natanael, que parece tê-la habitado desde os 20 anos, mas que só em 1979-81, num período da sua vida “atravessado por acontecimentos e viagens”, subitamente irrompe e toma forma.
Uma Bela Manhã prossegue a história de Natanael, o homem simples, de alma límpida que viveu nos Países Baixos do séc. XVII, através do relato da vida itinerante e multiplicada de um filho seu.
Todas elas têm a sua origem comum numa obra publicada em 1935 sob o título La Mort Conduit l’ Attelage (A Morte Conduz a Carruagem). Desse título de então, diz-nos Yourcenar que não o reteve por lhe parecer hoje demasiado simplista. Descobriu que “a morte conduz a carruagem, mas a vida também”.
Bastará esta frase para dar a conhecer a essência da obra desta mulher simples e antiquíssima ao mesmo tempo camponesa e bruxa e grande dama.


As coisas que nunca dissemos de Marc Levy :)

Sinopse
Julia Walsh sempre teve uma relação difícil com o pai. Quase nunca se viam, mal se falavam e, das raras vezes em que estavam em contacto, acabavam sempre a discutir. Três dias antes do seu casamento, Julia recebe um telefonema da secretária do pai. Tal como ela esperava, Anthony Walsh não vai poder comparecer ao seu casamento. Contudo, tem uma justificação inabalável: está morto. Julia não consegue deixar de ver o lado tragicómico da situação. De um momento para o outro, passa da preparação de um casamento para a preparação de um funeral. Até depois de morto, Anthony Walsh parece ter o dom de transtornar a vida da filha. Mas, a seguir ao funeral, Julia descobre que o pai tinha mais uma surpresa reservada: a maior aventura da sua vida e, finalmente, uma oportunidade de dizer tudo aquilo que sempre calou… No seu comovente e divertido novo romance, Marc Levy cria um mundo de intriga e suspense, através de uma história sobre a força do amor.


E tudo por 10€ :D

P.s: Ainda vou descobrir porque é que não estou a conseguir pôr imagens -.-

Os verdadeiros génios vivem para sempre...




O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos