Inspiração



Um bocadinho de mim em palavras soltas, libertas pela digitalização da mente.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Mariza - Barco Negro

Finalmente algo que me inspire :)

Vi o clip e não resisti a escrever alguma coisinha rápida...







A areia toca-me o corpo coberto de negro. Sou um ponto escuro no meio de um sedoso chão dourado, que me envolve enquanto choro. O som das ondas embala-me o pranto e a tremura vaga de um corpo fraco. Vejo-te ao longe, perdido no mar agitado que, eu sei, não te trará de volta. O cheiro desta praia vazia enche-me os sentidos e ecoa na maresia o som agudo da tua saudade.

Levanto-me a custo, obrigando o meu corpo a obedecer, e arrasto os meus pés até à água. Já não te vejo e, por isso, sei que a despedida foi para sempre. Ao chegar-me mais perto da linha de água, a bainha do meu vestido, preto como a profundidade do meu ser, molha-se com as lágrimas salgadas que derramaste ao partir. Minto a mim mesma e ganho a certeza de que voltarás. Quero acreditar, porém o vazio que me preenche as entranhas não desaparece.

Ouço o silêncio da tua ausência ao mesmo tempo que estendo a mão para tocar a tua, lá ao fundo, imaginariamente acenando. Um leve sorriso toca-me os lábios e sonho que são carícias tuas, espalhadas em memórias já esquecidas. Uma sensação de paz ameaça entrar, mas o vento volta e traz na bagagem as palavras maldosas das velhas mulheres da praia: “ Ele não voltará… não voltará”. O burburinho alcança-me o coração e, com as suas mãos tristes, aperta-me o coração até eu sentir sangrar .. . A dor sufoca-me.

Rasgo as roupas enquanto canto aos mares e às areias que me rodeiam a loucura dessas mulheres: “Loucas…são loucas”. O mundo parece ouvir-me e tudo se queda novamente em silêncio. Tudo menos os incessantes queixumes que teimo em deixar sair.

Vejo-te do outro lado da praia… Afinal nunca partiste. A minha voz eleva-se e enche o céu, ao mesmo tempo que tento chegar a ti: “ Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir, pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo.”

A tua imagem esfuma-se e tudo o que resta é uma mulher vestida de negro, deitada numa tela dourada e áspera, agarrando os resquícios da presença de quem já lá não está.

7 comentários:

  1. Mimicas, gosto muito da maneira como encaixaste o refrão no texto. Mas é triste, e tão só... um embalo de destino negro.

    O vestido negro,
    a sua mortalha onde se enrola em vida.

    Jocas!

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  2. vieste mesmo :p :p

    Eu não sei é porque é que a menina também não desata a escrever.. tens muita coisa aí dentro que precisa de sair.. que tal pela escrita? :D

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  3. és muito fofinha e escreves bem.

    assinado: daniela.

    lol joking...está fantástico, como todos os outros. tu sabes perfeitamente o que penso de tudo o que escreves, genuíno e genial. beijos da mana.

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  4. eu sabia que era uma maninha muito bem mandada.. onde já se viu não comentar o meu blog -.-

    obrigado por teres feito o esforço :D

    viste não doeu muito, pois não? então vê se te habituas :)

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  5. Minha amiga, escolhes-te um dos meus fados favoritos...caí-me sempre a lágrima...

    E deste-lhe um toque de mestre!!
    Embora triste está lindissimo *.*

    Beijinhos :)

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  6. ola priminha:

    sem duvida o fado mais bonito e sentido...

    a tua interpretação é magistral sem dúvida nenhuma. tenho um grande orgulho em saber que aquela priminha de sorriso fácil que conheci à muitos anos atrás se tornou uma mulher lindíssima, inteligentíssima e com o verdadeiro dom da palavra.

    uma num milhão.

    parabéns

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  7. Aww *.* Até me deixas sem jeito :p :p

    E esses elogios todos *.*

    Nem sei se os mereço mas agradeço facto de seres uma querida :D

    E um prazer ler os teus comentários :)

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